Pesquisa mostra que conexão social protege a saúde emocional e física na maturidade; Em Curitiba, um grupo de pessoas cria um Cohousing com a certeza de que a vida em comunidade é o caminho para envelhecer com autonomia e vínculos.
À medida que o tempo passa, muitas pessoas percebem que o silêncio dentro de casa cresce junto com os anos. A rotina muda, os encontros ficam mais raros e aquilo que antes preenchia os dias, como o trabalho, os filhos e as conversas na vizinhança, já não são tão presentes. Para uma parte significativa da população acima dos 50 anos, essa mudança traz um sentimento difícil de nomear, mas fácil de sentir através das reflexões sobre o peso da solidão que se insinua nos gestos mais simples, a falta de contato com as pessoas e a própria utilização do tempo. A falta de companhia abre as portas para a tristeza e apatia, que podem evoluir para problemas psíquicos. E é justamente nesse ponto que diferentes pesquisas sobre envelhecimento chegam a uma mesma conclusão: conviver faz bem. A Pesquisa Nacional de Saúde, do IBGE, mostra que a depressão tem avançado entre pessoas acima de 60 anos, com prevalência de 13,2% na faixa de 60 a 64 anos. Muitos desses sintomas passam despercebidos porque se confundem com transformações naturais da idade, mas frequentemente estão relacionados ao isolamento. O antídoto para a solidão, contudo, pode ser mais simples do que parece. Em muitos casos, a convivência social por meio de pequenos encontros, conversas rápidas ou atividades compartilhadas já traz efeitos positivos, pois ajuda a manter o corpo e a mente em movimento. Sob o viés científico, a participação social está ligada a melhor função cognitiva, menor incidência de sintomas depressivos, mais autonomia nas atividades diárias e menor mortalidade entre pessoas idosas. É mais um fator de proteção para a saúde e bem-estar, comparável em importância à prática de exercícios ou à adoção de hábitos alimentares saudáveis. Mas, na prática, como a melhor idade pode conviver bem? A resposta tem sido explorada em diferentes iniciativas ao redor do mundo, que buscam criar ambientes onde os vínculos acontecem de forma espontânea e cotidiana. Entre essas experiências, um modelo chamado de “Cohousing” tem ganhado destaque ao unir privacidade, autonomia e vida coletiva. Cohousing: um caminho para envelhecer com vínculos O Cohousing surgiu na Dinamarca nos anos 1960 como alternativa para pessoas que buscavam viver com mais colaboração e menos isolamento. O modelo combina moradias privativas e espaços comuns que estimulam encontros cotidianos, atividades compartilhadas e decisões tomadas em grupo. A proposta é que essa convivência mais estruturada crie uma rotina ativa e reforce o senso de pertencimento dos moradores, fatores que estudos internacionais relacionam ao menor risco de depressão e maior autonomia na maturidade. A arquiteta Tania G. Kopruszinski, que pesquisa alternativas de vida colaborativa para a maturidade, observa que o Cohousing resgata algo que sempre esteve presente nas relações humanas: “A convivência sempre fez parte da vida em comunidade. O que o cohousing faz é reorganizar isso de maneira consciente”, afirma. Para ela, a força do modelo está no equilíbrio entre independência e proximidade. “Cada pessoa tem seu espaço, sua casa privativa, mas sabe que existe alguém por perto. E esse equilíbrio faz bem para a saúde emocional”. Pesquisas realizadas em cohousings dinamarqueses mostram que moradores vivem, em média, de sete a oito anos a mais, usam menos medicamentos e procuram menos serviços médicos. Afinal, viver perto, dentro desse formato, funciona como uma rede de apoio cotidiana. Uma experiência que ganha forma em Curitiba No Brasil, o interesse por moradias colaborativas cresceu nos últimos anos, especialmente entre pessoas acima dos 50 anos que desejam ter autonomia sem abrir mão da companhia. Em Curitiba, o Vilarejo Senior Cohousing nasce desse movimento. Idealizado por um grupo que busca envelhecer com mais propósito e menos solidão, o projeto prevê moradias individuais e espaços compartilhados pensados para estimular convivência e cuidado mútuo. Tania, que é uma das idealizadoras dessa iniciativa curitibana, explica que o Vilarejo foi pensado para criar uma rotina que mantenha corpo e mente ativos. “Muita gente chega aos 50, 60 querendo continuar independente, mas não quer envelhecer só. Aqui, a convivência não é imposição. Ela acontece porque faz sentido”, afirma. Para ela, esse formato permite que cada pessoa redescubra talentos, aprenda novas atividades e participe de uma vida comunitária que dá ritmo aos dias. No Cohousing os vizinhos se conhecem, convivem com harmonia e cada um leva o compromisso de dar atenção aos outros e de trabalhar em conjunto para que tudo funcione da melhor maneira para todos os moradores. A Casa Comum será o centro dessa experiência, pois será ali o local compartilhado para refeições, oficinas, rodas de conversa, atividades físicas e culturais. Hortas e jardins completam o cotidiano e tudo funciona como espaço de aprendizagem. O modelo de organização, convivência e decisão seguirá princípios da sociocracia, que pela autogestão dos envolvidos substitui a votação tradicional pelo consentimento. Neste sistema, as responsabilidades são atribuídas de acordo com as habilidades de cada morador: quem gosta de jardinagem cuida das plantas; quem se identifica com cultura, organiza eventos; quem tem facilidade com números, apoia o financeiro. “Queremos construir um ambiente de escuta e cooperação. Cada decisão é tomada em conjunto, desde a cor das paredes até o planejamento da horta. A ideia é viver em comunidade, e não em condomínio. Quando cada um contribui com o que sabe e essa contribuição é considerada e valorizada, a comunidade floresce e as pessoas se mantêm mental e socialmente ativas”, afirma Tania. Segundo ela, esse envolvimento transforma o Vilarejo em algo além de uma propriedade, de um projeto arquitetônico ou de um condomínio. “É um jeito de viver a maturidade em comunidade, com propósito e bem-estar”, conclui a arquiteta. Projeto O projeto prevê 20 casas de 60, 80 e 100 metros quadrados, todas térreas e adaptadas. Cada morador terá sua residência privativa, mas compartilhará espaços como a Casa Comum e ampla área externa de convivência. Serviço – Vilarejo Senior Cohousing Curitiba 📍 Local: Santa Felicidade – Curitiba (PR) 🏠 20 casas privativas, com áreas compartilhadas e gestão sociocrática 👥 Público: pessoas a partir de 50 anos 🗓 Previsão de entrega: 2028 Para mais informações, acesse o Instagram: @vilarejocohousing